terça-feira, 29 de abril de 2014

Perfume Roxane, Arno Sorel

Delicioso e anacrônico floral atalcado feminino.

Sim, é datado. Sim, é antigo. Sim, tem cheiro de penteadeira velha. E daí? Nada impede que fragrâncias assim sejam boas. Nada me impede de gostar de perfumes assim.

E agora que você já sabe do que se trata, vamos à pirâmide olfativa:

  • Notas de topo: aldeídos, bergamota, limão e néroli.
  • Notas do meio: lírio do vale, jasmim, raiz de lírio e ylang-ylang.
  • Notas de base: sândalo, baunilha, cedro, âmbar e almíscar.

A abertura já é uma explosão de talco com limão. Sinto bastante todos os ingredientes que estão intensos e inconfundíveis.

O coração é um belo buquê, na verdade é uma floricultura inteira com inúmeras flores de cada espécie. A raiz de lírio tem uma participação importante no corpo porque dá um tom sólido e terroso à fragrância. A combinação é muito interessante.

A confortável base é muito atalcada e almiscarada, com algumas nuances de madeiras. Dentre elas, sinto principalmente o sândalo. Não noto muito a baunilha, percebo melhor o âmbar.

A fixação dessa fragrância na minha pele é alguma coisa entre 10 horas e infinita. Não vou ficar sem tomar banho só para saber até onde isso vai. A projeção é enorme, empesteia uma mansão inteira na hora da aplicação e na base ainda "preenche" um salão de festas. O rastro é do tipo "daqui a uma semana, quando a diarista vier fazer a faxina, esse cheiro vai embora".

Mesmo exagerado assim, Roxane é um perfume para uso diurno. Não tenho dúvida de que, nos anos 70, uma mulher com esse cheiro seria considerada moderna, perfumada e de bom gosto. Nos dias de hoje é impossível usá-lo sem ficar com cheiro de loja de antiguidades, de baú de vó ou ainda com "cheiro de velha", para quem não sabe adjetivar corretamente as coisas.

Admiro quem tem coragem de enfrentar todos os preconceitos e ser feliz em 2014 usando esse delicioso atalcado. Eu, que sou considerada durona porque "cago e ando" para a opinião alheia, nas poucas vezes em que sai com esse perfume fiquei morrendo de medo de terem uma impressão totalmente distorcida de mim e até passarem a me tratar de outro jeito por causa disso.

E não adianta dizer que perfumes são atemporais ou qualquer divagação do tipo. Na teoria é lindo, mas é inegável que nossa tolerância olfativa muda com o tempo e nos últimos anos mudou ainda mais rápido. Perfumes que foram lançados no início deste milênio, como Glamour de O Boticário (2001) e Alien de Thierry Mugler (2005), já soam antigos porque nos lembram fatos da década passada que a gente quer que fiquem lá mesmo. O que dizer dos florais aldeídicos que já faziam sucesso quando nossos avós eram crianças?

Roxane está no time de fragrâncias como Arpége (Lanvin), Charisma (Avon), Jardins de Bagatelle (Guerlain), Montaigne (Caron), Sweet Honesty (Avon), Toque de Amor (Avon), Topaze (Avon). Sei que todas essas são bastante diferentes entre si, mas nos dias de hoje acabam agradando o mesmo público: pessoas que curtem perfumes feitos até os anos 70. Não sei exatamente quando Roxane foi lançado, mas sem dúvida é um exemplar aroma da época em que os atalcados reinavam.

O frasco dessa eau de toilette tem 100 ml e atualmente (29/04/2014) custa menos de R$ 70,00 nas várias perfumarias on-line onde é vendido.

Bom cheiro!

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