domingo, 27 de abril de 2014

Como criar memórias olfativas

Estamos sempre associando cheiros a momentos, mas geralmente acontece por acaso: o cheiro estava lá naquele instante e nosso cérebro transformou tudo em uma lembrança só.

Por isso, uma memória olfativa não necessariamente depende de um perfume. Pode ser cheiro de comida, de cigarro, de bebida alcoólica. E o interessante é que odores não agradáveis podem se associar a lembranças boas. Cheiro de pastel frito misturado a cereais à granel e ainda ao odor de peixe cru, por exemplo, me lembra a Feira do Guará, em Brasília, um lugar que adoro e com o qual tenho um laço afetivo e familiar muito forte. E por mais que eu odeie cheiro de cigarro, alguns deles me lembram pessoas queridas da minha família, como minha mãe e alguns tios.

Em 2011 iniciei uma experiência interessante: vincular de propósito alguns cheiros, nesse caso de perfumes, a determinados momentos. Fiz isso nas minhas primeiras férias remuneradas. Escolhi duas miniaturas de fragrâncias e usei nas cidades que visitei pela primeira vez.

O resultado foi fantástico: Noa Fleur agora me lembra Rio Quente e Caldas Novas, incluindo o Hot Park e a maravilhosa piscina olímpica do hotel na qual nadei loucamente durante a minha estadia.

Noa Perle, por sua vez, foi meu cheiro em Pirenópolis. Me faz lembrar os museus, as ruas de pedras, os restaurantes, as lojas de artesanatos, a calmaria da cidade em dias úteis, a confortável rede da pousada, o rico café da manhã.

Vale reforçar que foram minhas primeiras férias remuneradas na vida, então aquele mês foi realmente especial pra mim e ter duas fragrâncias que me fazem lembrar de tudo aquilo é realmente mágico.

Em 2012 aproveitei as férias para ir a São Paulo participar de um evento no qual tive a oportunidade de conhecer pessoalmente personalidades fantásticas como Gilberto Dimenstein, Eduardo Giannetti, Miguel Nicolelis, Milton Hatoum, Viviane Mosé e Pierre Lévy, só para citar os mais famosos. Para realizar esse sonho, levei comigo um sonho de perfume: Lolita Lempicka EDP. Dulcíssima, essa fragrância rendeu um episódio engraçado com um homem reclamando do meu cheiro dentro de uma livraria da Paulista.

Hoje acho graça, mas na época fiquei tão traumatizada que não usei mais o perfume, de forma que a associação da fragrância à viagem ficou ainda mais forte. Além dos diálogos fantásticos do R.I.A. Festival e dos suecos com quem eu dividi quarto, agora Lolita Lempicka me lembra o Ibirapuera, as ruas da Vila Mariana e a Avenida Paulista, lugares por onde bati perna nos dias em que passei na cidade.

Também em 2012 fui ao Rio de Janeiro prestar um concurso. Usei Flower by Kenzo, outra fragrância que não usei mais depois da viagem, só para deixar a lembrança olfativa bem marcada. Mas o engraçado é que, pelo menos na época, o Centro do Rio estava muito sujo, cheio de lixo nas calçadas e tudo isso somado ao odor que vinha do mar, deixava o bairro inteiro com cheiro de ovo podre. Agora, quando sinto cheiro de ovo podre me lembro do Centro do Rio, quase tanto quanto sinto Flower by Kenzo.

Como citei acima, minha experiência em criar memórias olfativas de propósito ocorreu somente em viagens: um perfume que eu nunca tinha usado em um lugar ao qual eu nunca tinha ido. Pronto! Aquele fica sendo o cheiro que me lembra o lugar e vice-versa.

Meu próximo projeto é associar perfumes a épocas da minha vida. Quando eu tinha menos frascos, e por isso era mais fiel a algumas fragrâncias, isso acontecia facilmente. Mas agora eu preciso me esforçar para usar todo dia o mesmo perfume, mesmo que seja só de manhã, para ir ao trabalho, já que à tarde eu sempre uso a fragrância que quero resenhar.

Este ano estou usando quase todo dia meu Fleurs de Cerisier (L'Occitane), só que ele já está vinculado a outras lembranças porque eu o usei em outras épocas. Então por enquanto o projeto está adiado.

E você? Já criou alguma memória olfativa de propósito?

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Bom cheiro!

Foto: Life Again.

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